.descascando.
Cascas fazem lembranças.
A família estava ali, comendo laranjas após o almoço, imagine.
Aquela dúzia da fruta sobre a mesa em forma de sobremesa, cada um descascando a sua e comendo aos gomos e chupadas sem pudor.
As laranjas, conforme eram descascadas, tinham suas cascas que saiam em espirais continuas sem romper. As cascas dos mais velhos eram longamente perfeitas o que chegou a me impressionar, mas veja bem eu disse as cascas pois a parte branca ficava ali toda intacta protegendo a cor laranja do gomo.
Confesso que conforme o tempo foi passando desenvolvi logo a técnica também, nada que uma simples prática não ofereça.
Fora da cozinha as cascas eram utilizadas nos quartos de uma forma nada romântica, em aparelhinhos de tomada para espantar os pernilongos, funcionava assim, mais ou menos, mas o cheirinho era bom.
Chega de cascas! Eu quero logo é o pé.
Ora pois!
Laranjas fazem diálogos.
Hoje de manhã fui atrás de um pé de limão, me disseram que tinha aqui perto logo ali na estrada, e sabe o que encontrei primeiro? Um pé de laranja.
Logo lembrei do livro Meu pé de laranja lima de José Mauro de Vasconcelos que é bem mais antigo que eu. Quem leu sabe: conta a história de um garoto chamado Zezé que conversava com o pé de laranja contando seus casos da vida e meninices. Foi assim que o pé de laranja virou um amigo dele.
Não conta pra ninguém, mas agora fui eu quem conversou com o pé.
Coisinhas que só o amor esconde, sonhos de menina que cresceu e mulher que espera um homem, sente saudade e chora, coisa nossa, me desculpe não vou poder contar mais. Vergonha, mostro só a casca e o gomo eu escondo.
Tudo por causa de uma laranja, sua casca, seu pé e seus causos, ou ela seria só um pretexto?
Um chá a dois quem sabe? Ah, o pé sabe!
Artigo feito para o site do The gourmet tea.
Hmm, no friozinho com biscoitinhos
1 comment:
Me infusionei junto! Adorei!
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